terça-feira, 2 de maio de 2017

Diz Aos Meus Pais


Alguém pode dizer aos meus pais...

Que, quando eu acordo, eu adoro ter o bom dia de cada um deles.
Que, embora raro, me faz muito bem em ver minha mãe sorridente.
Que eu adoro quando consigo dar aquele abraço no canto esquerdo do braço do meu pai. O que é raro.
Que eu gosto quando a minha mãe pergunta se eu dormi bem e, ao perguntar sobre ela, ela não reclama, nem critica ninguém.

Alguém pode dizer aos meus pais...

Que eu gostaria de não ter nascido com os problemas que tenho.
Mas tento, de várias maneiras, encontrar saídas e soluções.
Por vários meios que descubro e pessoas que conheço.
Enfrento de frente, apesar das frustrações e difíceis situações.

Alguém pode dizer aos meus pais...

Que, embora raro, eu adoro quando eles prestam atenção no que eu falo.
Me olham nos olhos.
E, de fato, me escutam.
Demonstrando interesse no que estou falando.

Alguém pode dizer aos meus pais...

Que quando passo muito tempo no quarto, é quando mais preciso de alguém ao meu lado.
Que quando mais me isolo, é quando mais preciso da presença.
Que quando mais me calo, é quando mais guardo o que preciso falar.
Que é quando mais eles precisam me escutar.
Me enxergar por dentro.
Me notar.

E não notam.
Ignoram.

Alguém pode dizer aos meus pais...

Que eu sinto falta de fazer as refeições sob a mesa.
Que eu gostaria que a minha mãe reclamasse menos.
Que eu queria sentar com o meu pai e conversar mais.
Que tivéssemos, ao menos, um dia da semana pra passear.
E que em datas comemorativas pudéssemos nos reunir e comemorar, sem nos estressar.

Alguém pode dizer aos meus pais...

Que eu sinto falta de afeto.
De um abraço sincero.
Da presença.
De conversas.
Confissões.
Confiança.
Compartilhar lembranças e desilusões.

Alguém pode dizer aos meus pais...

Que sinto falta de ser notada.
Olhada.
Escutada.
Abraçada.
Amada.
Incentivada.
Que eu gostaria de ser orgulho.
E que eu detesto esse muro invisível e resistente que há entre nós.

Alguém pode dizer aos meus pais...

Que eu tento dar o meu melhor.
Mas me sinto cada dia pior.
Que eu tento compreender.
Mas não vejo ninguém conseguindo me entender.

Alguém pode dizer aos meus pais...

Que eu queria que eles estivessem presentes pra assistir a minha primeira apresentação.
Que o meu pai gostasse e valorizasse o que escrevo e demonstro o que vem do coração.
Que eu gostaria muito que eles seguissem uma religião.
Que eles compreendessem que nem tudo foi em vão.

Que estamos vivos e a vida continua.
Que a vida não é fácil, é uma eterna luta.
Que não há solução que surja se a gente não busca.
Que não há caminho que mude se a gente não muda.

Que o frio de uma alma.
O carinho que acalma.
A frieza de um olhar.
O isolamento persistente.
A presença sempre ausente.
A voz que se cala.
O silêncio que não para.
A mágoa que ocupa.

Só o Amor que cura!


Renata Galbine!

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