quarta-feira, 25 de outubro de 2017

O Aluno Que Muito Sangrou, Transbordou.


Já reparou?!

Nesses últimos tempos, muito se tem visto e ouvido falar em mortes em escolas.
Não só no Brasil, mas em outros países afora.

Alunos que são baleados por outro aluno e saem sem vida.
Histórias trágicas que, pra mim, todos são vítimas.

Não estou me referindo a nenhum caso específico, mas a todos no geral.

Eu tenho reparado o quanto esse índice tem aumentado.
Eu tenho pensado bastante à respeito desses fatos.
E sempre com bastante cautela, já que trata-se de um assunto tão delicado.

Escuto os noticiários e reparo nos comentários das pessoas.

No noticiário, quem cometeu o crime, se torna: "O atirador".
Na boca das pessoas, quem disparou o tiro, se torna:
"O monstro", "O assassino", "O descontrolado", "O psicopata", e por aí vai.
É um mar de ofensas e ódio.

Não estou aqui tirando ou diminuindo a culpa de ninguém.
Porém, acredito que existam casos e casos e eles precisam serem analisados.

Você já parou pra pensar, só por um instante, o que leva um aluno a atirar contra outros?

Tudo bem.
Em alguns casos, pode ser por pura psicopatia, descontrole emocional, maldade, desvio de caráter e um único propósito que é matar.
Volto a dizer: Existem casos e casos.

Mas você já parou pra pensar e se perguntar, além de todas essas possibilidades, o que pode existir por trás?!
- O que pode estar por trás dessa pessoa?
Eu me refiro a mente e coração.

Hoje, deram um nome específico.
Na minha época não existia esse termo.
Mas o significado e o contexto, eram exatamente os mesmos.

Bullying.

Só entende dele quem já passou por ele.

Conforme citei no início do texto, há um tempo atrás, pouco se ouvia falar em alunos que disparam uma arma contra outros.
Na nossa realidade atual isso tem se tornado cada vez mais frequente.

Talvez por estarmos perdendo valores.
Por não estarmos respeitando como antes os professores.
Talvez por estar faltando o "NÃO" dentro de casa.
Talvez porque hoje os pais não educam mais como ontem.
A rigidez que no passado, talvez, fosse exagerada, atualmente, foi completamente alterada.
Tudo é tolerado. Tudo é engraçado.
É tudo muito livre, muito solto.

Hoje pouco se vê um pai falando o que o filho vai precisar fazer.
E muito se escuta um pai perguntando o que ele quer fazer.

Mudaram-se os valores.
Diminuíram-se os pudores.
Trocaram-se as autoridades.

Alguns se esquecem, ou, talvez, não saibam que, é dentro de casa que muitas coisas precisam ser ensinadas.
E não na escola.

Com isso, nos deparamos com alunos autoritários, arrogantes.
Que afirmam com prepotência que "estão pagando", como se isso desse o direito de "pintar e bordar", fazer o que quiserem e bem entendem.
Se esquecem que, primeiramente, quem está pagando não são eles, mas, sim seus pais.
Que eles mau têm dinheiro pra comprar o lanche do intervalo, e se têm, é porque receberam dos pais.

Contudo, se esquecem do mais importante:
Que se em suas casas não existem regras, na escola, existe. E em todos os outros lugares também.
A vida é uma regra, cheia de limites.

E aí, então, esses seres saem de casa, vestidos, alimentados, mas, nem sempre, orientados e bem educados.
E sempre adota na escola um "para Cristo", como dizem.
Fazendo dos seus dias uma enorme diversão e do outro um grande inferno.
Quando se juntam, se acham valentes.
Se acham muito espertos, inteligentes, engraçados.
Volto a dizer: Arrogantes. Prepotentes.

Quando leva um tiro no meio da cabeça e morre, sai no Jornal como vítima.
Todos vão lamentar a sua morte.
Mas poucos vão procurar saber, ou vão dizer, o que fazia em cada um dos seus dias dentro de sala de aula.

Falta-se limite.
Falta-se respeito.
Falta-se compaixão.
Falta-se educação.

É um excesso de preconceito.
E a ausência de preceito.

Só quem viveu ou vive o bullying, sabe do que estou falando.

É preciso ser, realmente, muito espiritualizado, controlado, bem intencionado, pra não dar um tiro no meio da cara de quem te perturba diariamente, de quem te diminui, te expõe, te ridiculariza.

É preciso base familiar.
É preciso apoio, amparo.
É preciso que alguém enxergue o que, quem passa, não consegue falar, não consegue expressar.
Não consegue colocar pra fora, somente, ruminar.

Não estamos falando de adultos que se desentendem no trabalho, se estressam no trânsito.
Estamos falando de crianças e adolescentes, que não possuem a mesma mentalidade que nós adultos.
Que vivem o bullying e, realmente, se sentem diminuídos por isso.
E, com isso, nem sempre terão total consciência do erro e gravidade de acabar cometendo um crime.

Quem enfrenta, sofre.
E somente quem sofre com isso, sabe o que passa.
Sabe o que carrega.
Grava e leva os nomes de cada "colega" que o diminuiu, que o perturbou, que o ridicularizou.

Quando o tempo passa, vemos o quanto somos maiores do que imaginávamos.
E que não somos pequenos como nos apontávamos.
Vemos o quanto ninguém tem o direito de nos diminuir, pois cada um possui a sua verdade e qualidades.

Percebemos o quanto aquilo poderia ter sido pequeno, se não tivéssemos permitido que nos atingissem tanto.
Percebemos o quanto, realmente, não compensa dar um tiro em "Graziellas" e "Marianas", pois a nossa vida vai muito além de Ensinos Fundamentais e Médios.

Percebemos o quanto, nem sempre a afirmação de um professor, é uma verdade absoluta.
E que embora seja ela uma professora de Português, existem muitas "Lúcias" equivocadas por aí.
O meu texto estava maravilhoso, eu sabia e sei escrever.
E o mais irônico, é que me tornei uma escritora.
É você quem não fez questão de olhar com bons olhos aquilo que eu havia feito e apresentado.
De que adiantaria eu te bater em sala de aula ou te matar?
Nada!
Eu teria acabado com a sua vida e a minha também.
E hoje você não estaria aqui para ler sobre você e sobre àquelas que você vangloriava.

Quem atira, nem sempre é um monstro.
Quem morre, nem sempre é uma vítima.

Por trás de uma bala disparada, pode existir o sangue batido.
Batido diariamente.
Inconsequentemente e friamente.
Porque tem o cabelo "assim" ou "assado".
Porque é doente.
Porque não é tão inteligente.
Porque não tem um sobrenome conhecido.
Porque sua roupa está fora de moda.
Porque o carro do seu pai não é o melhor do momento.
Porque não gostam do bairro que você mora.
Porque é gordo ou magro.
Porque é alto ou baixo.
Porque é mulato.
Porque é pardo.
Porque é pobre.
Porque é quieto.
Porque é gago.
Porque é...

É o que quiser ser.
O que tiver que ser.

Cabe a mim e a você, respeitar, não caçoar.
Porém, respeito vem de casa, vem de berço.

Ninguém é melhor do que ninguém.
Logo, ninguém tem o direito de diminuir ninguém.
Dessa forma, não temos, também, o direito de apontar o dedo para ninguém.

Se matou, é porque faltou orientação, percepção.
Se matou, é porque sangrou.
E sangrou tanto que transbordou.


Renata Galbine!

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