sábado, 10 de fevereiro de 2018

Em Memória


Ei, Vida...

Preciso dizer algumas coisas pra você.
Agora, definitivamente, precisamos conversar.

Você não cansa?

Não é nem pelo fato de tirar aquilo que aprendemos a amar.
Pois essa é a única certeza que temos.
Essa é a tal "lei da vida".

Mas, Vida...

Vem aqui.
Tenta me explicar.
Eu preciso entender.

Por que?!

Por que tem nos tirado mais do que tem nos dado?

São tantas perdas sequenciais.
A maioria foram os meus animais.
Mas ela, embora não fosse minha.
Minha "Filha".
Era "Sobrinha".
Que eu amava, cuidava, me preocupava.
Que eu amo.

Ela gostava de dormir na minha cama.
A última vez em que ela dormiu, o que têm poucos dias, foi tão pertinho, tão juntinho de mim, que eu até estranhei, já que o cantinho dela sempre foi ao lado do meu travesseiro.
Quando eu entrava no quarto, ela entrava junto pra beber água no pote da Tiba.
A Tiba que não está mais aqui, mas mantive o pote de água dela no mesmo lugar.

Quando eu saia do banho, ela ia beber água no boxe.
- "Alice, vai beber essa água quente???" - perguntava, indignada. Mas ela amava.
Quando eu ia escovar os dentes, ela vinha correndo de onde estivesse, subia na pia pra beber água na torneira. E bebia, com total delicadeza.
Quando todos saíam ela ficava feito uma princesa no quarto, deitada na cama.
Ou então esparramada em cima da geladeira.

E agora?

Como explica para o coração que nada disso vai mais acontecer?
Como explica que nada disso estará mais ao alcance dos nossos olhos?
Como conseguir entender?
Como lidar com a solidão do vazio de um ser que conviveu por anos com você?

Você faz ideia da dificuldade de ter que lidar com isso novamente?
E mais...
Você faz ideia do quanto dói ver quem você ama sofrendo pela perda, dessa dor que eu conheço bem?

Eu sei o que já passei.
Eu sei o que senti e o quanto sofri.

O ano anterior, foram três dos meus.
Eu continuo e continuarei me perguntando eternamente:

- "Por que?!"

Em meio a tantos.
Diante de todos.
Por que os mais apegados, cuidados e amados?

Essa dor que sufoca e dilacera o peito.
Parece até que não vamos conseguir seguir.
E ter forças pra continuar vivendo.

Sim.
Dói.
Dói mesmo.
Dói muito.

Exagero?
Pode ser para alguns.

Sem sentido?
Não me interessa saber o que o outro pensa, julga, sente ou deixa de sentir.

Até porque, só se sente uma dor quando se tem o privilégio de viver tal amor.
Lamento por quem ainda não teve esse privilégio e dádiva de amar e ser verdadeiramente amado.

Vida...
Talvez, você esteja querendo nos ensinar, nos mostrar alguma coisa.
Mas tem que ser dessa forma?
Tão dura e doída.

Pode ser revolta minha.
Mas acho covarde o ato de nos dar o direito de adotar, acolher, amparar, cuidar, nos apegar, amar.
E sempre em um momento de maior sufoco e dificuldade, as coisas desandam sem que a gente tenha tempo de reverter e não deixar o pior acontecer.
Vem você e tira, arranca de nós.

É pra mostrar quem manda?
É jogo de poder?

Você amar e não ter condições de poder ajudar o suficiente a ponto de conseguir salvar.
Você amar e viver com o vazio, uma lacuna, a culpa e a dúvida:
- "E se eu pudesse ter feito mais?!"

Não é fácil perder assim.
Perder pra você.
Perder, literalmente, pra vida.

Estou falando de amor.
Troca.
Convivência.
Lealdade.
Detalhes pequenos que marcam de forma grandiosa, profunda e eterna.

A falta de oportunidade, é que dói.
A falta de tempo, é que machuca.
A falta de poder, é que perturba.
Perturba a mente e o coração.
E nos resta a sensação de culpa.

Quem disse que gato têm sete vidas, estou chegando a conclusão que mentiu.
Se equivocou, errou.
Ela tinha sua vida cuidada e preservada.
E mal que pudessemos ter tido a oportunidade de fazer alguma coisa, ela partiu.

Será que ainda restam 6 para que ela possa voltar?
São perguntas que fazemos.
São desculpas que arrumamos para as lágrimas pararem de cair.
São saídas que tentamos vislumbrar para tentar acalmar o coração e encontrar forças pra seguir.

A nossa Esquila virou Anjinho.
Da "Pontinha" para a pontinha do céu, o mais próximo de nós de forma que possa até desequilibrar dessa ponta e cair em nossos braços novamente.

- "Vida, com você já falei o que precisava.
Muito obrigada!"

- "Princesa da tia, ajuda a mamãe?
Embora eu conheça cada segundo dessa dor, nem sei se sei ajudá-la.
Mas prometo não desampará-la!"

Obrigada por tanto amor.
Pelo narizinho de esquilo.
Pela postura de mocinha.
Por todo o companheirismo.
Pelas noites em que dormiu aqui comigo.

Ainda não conseguimos acreditar.
Mas jamais deixaremos de te amar.
Pois o amor nunca morre.

Te Amamos!


Renata Galbine!

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