sexta-feira, 15 de junho de 2018

DESABAFO. Um Relato de Vida!


DESABAFO.
Um Relato de Vida!

Hoje, pela manhã, fui ao Laboratório, pois precisava fazer um Hemograma.
Sexta-Feira nublada, chuvosa, gelada.
A vontade era ficar na cama. Mas... Vamos encarar a realidade e as necessidades!
Cheguei! Estava vazio, nem precisei pegar a senha (atípico).
Assim que entrei no Laboratório, fui fazer a ficha e todos os procedimentos.
Concluída essa parte, não precisei esperar nem 2 minutos, logo fui chamada para colher o sangue.
Abracei uma funcionária, na qual pegamos carinho uma pela outra pela quantidade de vezes em que já precisei estar ali, inclusive, sendo atendida por ela.
Mas fui para a sala ao lado, pois outra moça me atenderia.
No que sentei na cadeira, estava posicionando os meus dois braços para que ela escolhesse o melhor pra colher o sangue, entra uma moça.
Ela ficou entre a sala e o corredor, olhando para a minha cara. E eu olhei para a dela!
Por alguns segundos ela fixou profundamente o seu olhar caído, entristecido e desanimado aos meus.
E, então, a olhei mais atentamente e ela disse:
- "Você se lembra de mim?!"
Por alguns segundos, passou um filme na minha cabeça, foi a minha memória, o meu subconsciente, trabalhando e buscando: "Quem é essa mulher???".
Eu sabia que a conhecia de algum lugar. Sua fisionomia, embora comum, não me era estranha.
E no decorrer desses segundos em que me mantive em silêncio, olhando para ela, fui me lembrando.
E, conforme lembrava, falava:

- "Do Hospital Hc Lagos?"
- "Te vi há um tempo atrás lá?"

E as lembranças foram ficando mais claras e concretas.

- "Você estava com a sua filha?"
Ela apenas balançava a cabeça, afirmando que "sim".
E, então, me lembrei daquela mulher.

Eu a vi também em uma Sexta-Feira.
Em uma dessas minhas tantas idas ao HC Lagos.
Eu estava no meu quarto dia da semana dessa jornada de quatro idas semanais.
Estava na Recepção sentada, aguardando para ser chamada.
E ao meu lado, estava ela.
Ela e uma menina!
Ela estava ali. Sentada. Nada dizia. Ela estava quieta.
Mas eu senti que ela estava angustiada, preocupada, acelerada. Mesmo que estática.
Pensei, pensei, pensei. E, então, olhei para ela e perguntei:
- "Me desculpa a intromissão. Está tudo bem? Você está precisando de alguma coisa?"

E ela me respondeu, muito aflita:
- "Estou aqui com a minha filha. (E olhou para a menina).
Ela não está bem, precisa ser internada e o Hospital está dizendo que não tem vaga.
Eu tenho um filho de 3 anos. Está com a minha mãe e eu aqui com ela sem saber o que fazer!"

E eu disse:
- "Calma! Vamos tentar resolver isso. Vamos tentar a vaga para ela."
(É um Hospital Particular)
Dei algumas orientações para ela, passei números de telefone, nome de pessoas bem específicas na Defensoria Pública, na Ouvidoria da Unimed. A orientei para que ela tomasse determinadas providências. Fui escutando ela, conversando.
Nesse meio tempo, fui chamada.
Fui atendida.
E na saída, olhei pra ela e disse:
- "Guarde todos esses números e nomes. Não deixa de fazer o que te falei. Boa sorte!"
E ela me agradeceu!

Nunca mais a vi. Apenas torci para que ela conseguisse a vaga que sua filha precisava.
Fui reencontrá-la hoje nesse Laboratório.
Ao final de todas as afirmações que ela me deu conforme fui me lembrando quem era ela, eis que ela me disse:
- "Minha filha faleceu!"

Meu coração ficou dilacerado.
Eu já estava com o "elástico" no braço.
Pulei da cadeira e apenas a abracei por um longo tempo.
E ela chorou feito criança.
Perguntei o que houve, se ela não havia conseguido a vaga naquele dia, o que tinha acontecido.
E ela me disse que conseguiu a vaga. Que a filha foi internada no HC Lagos naquela Sexta-Feira, mas que naquele mesmo dia ela foi transferida para o Rio de Janeiro.
E ali ela ficou sabendo que a filha estava com Leucemia.
14 anos.
Os exames estavam, praticamente, normais.
Sem grandes alterações e sem alterações que deixasse tão nítido o quadro de uma Leucemia.
Disse que, resumidamente, o que a filha sentia, era uma dor forte na perna esquerda.
Mas ia a escola, estava fazendo suas atividades normalmente.
Que era estudiosa. Só tirava notas boas.
E que, mesmo internada, fez dois trabalhos da escola pra não ficarem pendentes, pra não ficar sem nota.
Disse ter um carro preto e que mora em um lugar onde não tem asfalto.
Ou seja. Quando chove: Muito barro. Quando não chove: Muita poeira.
E que, aos finais de semana, ela olhava para o carro, mesmo sendo uma menina, mesmo sendo tão nova, dizia:
- "Mamãe! O carro está tão sujo. Posso lavar ele?!" - e então ela lavava.
Que ela tinha muita Fé. Que ela tinha total certeza de que ficaria boa.
E foram 58 dias de luta. Mas ela não resistiu.

E a mãe me dizia:
- "Tinham crianças com um quadro muito pior do que o dela (Exames com alterações muito maiores, visivelmente.), estavam fazendo o mesmo tratamento que ela e receberam alta em 15/20 dias, mas ela não respondia a Quimioterapia e a nada que estava sendo feito."

Eu ouvia, calada, mas para a minha mente eu me perguntava:
- "Meu Deus! O que dizer pra essa mãe???? Como ajudá-la de alguma forma?"

Dentro do que venho aprendendo nesses últimos anos, eu até teria MUITO a dizer para ela.
Mas eu, de fato, nem a conheço. Não sei como ela receberia essas informações, as minhas afirmações.
Vejo que a filha dela foi um ser de Luz. Uma menina iluminada, evoluída e que cumpriu com sua jornada, com sua missão.

As perguntas que ela deve estar se fazendo, obviamente, são:
- "Por que, meu Deus????"
- "Ela não merecia!"
- "Eu não merecia!"
- "Por que Está me castigando dessa forma?!"
Entre tantas outras perguntas.
Mas Deus não castiga.
Estamos aqui com a Permissão Dele para aprendermos, ensinarmos, resgatarmos e evoluirmos.

Mas COMO dizer isso para uma mãe que perdeu uma filha há menos de um mês?
Se sentimos a dor da perda de um animal de estimação, de um amor não correspondido.
IMAGINA em perder um filho?????

A ida ao Laboratório que, (milagrosamente), era pra ter durado 10/20 minutos.
Durou quase 2 horas.
Mas agradeci MUITO a Espiritualidade por tê-la colocado novamente em meu caminho.
Fiz o que pude. Falei o que consegui.

Ali me deparei com uma mãe inconformada, desolada, arrasada pela dor da morte.

Saindo dali, fui eu ao Hc Lagos.
Enfrentar a minha realidade na quarta ida na semana da minha jornada semanal.
Também em uma Sexta-Feira, me deparo com o oposto:

Uma família sentada na recepção.
Ali devia ter marido, sogra, mãe, irmão, tio, avó, avô, conhecido e sei lá mais quem.
Falavam alto. Estavam felizes. Eufóricos.
Tirando fotos.
Tirando Selfies.
Mais parecia uma festa.
E, de fato, era.
A protagonista de tudo isso estava lá em cima, naquele momento, em trabalho de parto.
Prestes a receber, a ganhar uma nova vida.

E o vazio que ficou em mim ao sair do Laboratório.
E a reflexão que ficou na minha mente ao sair do Hospital.

A dor pelo "fim" de uma vida.
E a alegria sem tamanho pelo começo dela.

É a vida sendo, exatamente, como ela é:
Inexplicavelmente EFÊMERA!


Renata Galbine!

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