terça-feira, 5 de março de 2019

LUTO


Foi de tristeza.
Foi de frustração.
Foi de nervoso.
Foi de decepção.
Foi de desgosto.

Foi por trabalhar uma vida inteira.
Acordar cedo.
Enfrentar fábricas.
Máquinas.
Graxa.
Barulho.
Cansaço.
Sono.
E chegar onde chegou.
Perdendo tudo aos poucos.
Material.
Sentimental.

Perder o espaço.
Perder a alegria.
Perder o respeito.

Perder a paz.

Foi por estar em uma cidade que ele não gostava.
Aturando uma mulher que ele não mais amava.
E o infernizava dia e noite.
Com agressões verbais.
Humilhações.
Fazendo passar vergonha.
Limitando os seus passos e decisões.

Foi por passar dos 60 e olhar pra trás e achar que nada valeu a pena.
Que lutou, lutou, lutou e pouco conquistou.
Que tanto trabalhou e pouco restou.

Já escrevi.
Já expressei.
Que os olhos dele não tinham mais o mesmo brilho.
Que faltava assunto.
Ânimo pra sorrir, pra fazer, pra tentar.
Pra viver.

Ele chegou a me dizer.
E doeu muito escutar.
Que ele queria desistir.
Que ele não aguentava mais sofrer.

Ele descansou.
A dor terminou.
Ou não.
Mas, ainda assim, é difícil acreditar.
E, principalmente, aceitar.

Que foi como foi.
Nós dois sabemos como.

Uma hora chega o fim.
Mas não tinha que ser assim.

Eu longe de você.
Podendo te ajudar.
E nada fiz.

Você me ligou.
De tanto que a minha mãe te infernizou.
E foi dormir.

Dormir cansado.
Estressado.
Desgastado.
Humilhado.

Sozinho.

Me perdoa, meu pai.
De, pela primeira vez, não ter estado ao seu lado pra te defender.
Te escutar.
Te ajudar.
Te socorrer.

Te salvar.
Te fazer viver.

Não sei como vai ser.
Como vou viver.
Como vou aguentar.
E sobreviver.

Me perdoa.

Obrigada por tanto amor.
Aprendizado.
Dedicação.

Você deu a sua vida por nós.
Aguentando tudo o que aguentou nesses últimos anos.

Você foi homem do começo, até o último suspiro.
Nunca nos virou as costas.
Nunca desistiu de nós.
Nunca nos abandonou.

Tolerou tudo o que tolerou por amor a nós.
E eu tenho total consciência disso.

Ser humano ímpar.
Não tinha quem não gostasse de você.
Pois era muito fácil e leve gostar de você.

Gostava-se de você de graça.
De cara.

Meus agradecimentos são poucos pelo tamanho da gratidão e reconhecimento que você merece.

"Vou jantar. Estou sem jantar desde ontem."
"Os Bambis perderam."
"Aqueles paralíticos do meu time."

A sua corrida aos Domingos.
Os seus programas Sertanejo ao final da noite.
Os seus olhos azuis.
Azul céu.
Onde você está.
Vai ser difícil lidar.
Mas que você esteja em paz.

Finalmente, em paz.
Você mais do que todos nós:
Merece.

Profundamente:
Obrigada.

Eternamente:

Eu AMO VOCÊ!


Renata Galbine!

Nenhum comentário:

Postar um comentário