quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Nostalgia De Infância


Saudade de quando eu era criança...
Uma menininha, sem noção da proporção e imensidão da vida.

Nunca fui aquela criança que tinha sede de crescer e ser "gente grande".

Eu amava ser criança.
Ser pequenininha.
Ser cuidada.
Ser super amparada.
Me sentir amada.

Afinal... Quem não gosta?!

Mas eu, realmente, amava.
Me sentia protegida, invicta de todo e qualquer mal.

Nunca, em hipótese alguma, tive vergonha dos meus pais.
Em nenhuma fase da minha vida.
Muita das vezes se, pelo menos, a minha mãe não fosse a um determinado lugar, eu não iria.

Ela sempre foi o meu colo.
O meu refúgio.
O meu ouvido.
A minha palmada necessária.
O meu cuidado exacerbado.

Saudade de quando eu era criança.
Brincava no parquinho.
Passava um longo tempo no balanço.
E me sentia como se estivesse voando.
Com os meus cabelos ao vento.

Saudade dos doces da cantina.
Saudade da hora do recreio, que eu pulava-corda ou dançava com as meninas.
Saudade da hora de ir embora da escola e poder receber o abraço do meu pai.

Que sempre quis uma menina.
Que deu o meu nome.
Que pegava no meu pé com os erros de Português.
E quase arrancava os cabelos me ensinando Matemática.

Saudade de encarar os problemas mais graves com os meus pais tomando frente de tudo.
Saudade de quando não fazia ideia das maldades do mundo.
Saudade de quando eu pensava que a única preocupação era ir mal na escola.
Saudade de cobrar de mim em tirar a melhor nota em cada prova.

Saudade de quando eu não fazia ideia que o ser humano é tão complexo.
Que a mente e o comportamento humano são tão contraditórios.
E para viver toda e qualquer história, muita das vezes, iremos nos machucar.
Um amigo irá te decepcionar.
Um fato irá te frustrar.
Um amor irá te machucar.

Não existem Príncipes Encantados.
Nem Sapatinho de Cristal.
A realidade é mesmo dura.
E, muitas vezes, te dá rasteira sem te dar sinal.

É um mundo feito do bem e do mal.
E você lida com os dois lados todos os dias, a todo o momento.

Saudade de quando a decepção de uma perda era de algum objeto que estava em meio a bagunça.
E não de um familiar, um amigo, um animal.
Ou até mesmo alguém que esteja vivo, mas é como se tivesse morrido.

Saudade da mente tranquila.
Da falta de preocupações.

Do coração leve.
Sem estar carregado de decepções.

Saudade de quando eu não podia comer algum alimento que me fazia mal.
Ao invés de não ter que engolir o choro por saudade de ficar sem falar com alguém que amo, por orgulho ou medo de errar.

Saudade de brincar no balanço.
Me sentir forte por dar impulso pra ele ir cada vez mais rápido.
Cada vez mais alto.

Eu mal imaginava o quanto é difícil decolar na vida.
Superar obstáculos.
Alcançar conquistas.
Perceber que, no fundo, as pessoas cobram de você mais do que você pode ser.

Muitas coisas podem ter ficado pra trás.
Faz parte do "jogo" da vida.
Mas o que ainda trago comigo e agradeço por isso.
É o meu sorriso mesmo durante a dor de uma agulhada e tantas outras dores camufladas dentro do peito.
É a minha sensibilidade que, muitas vezes, me faz chorar até de madrugada.
É o meu olhar detalhista que nota uma flor pequenina no canteiro.
É saber admirar o pôr-do-sol, o céu estrelado e uma linda noite de luar.
É ter a percepção de quem eu gosto e quero perto de mim, ou não.

Tenho valores tão convictos, que me aliviam o leve vazio em não ser mais criança.
Por ter trazido dentro de mim, de forma tão concreta, pedaços tão significativos e singulares.
Opostos de pensamentos e sentimentos de um mundo tão medíocre e limítrofe.


Renata Galbine!

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